A Queda Parte final
Ligou para Miguel e marcou pra se encontrarem por volta das dezoito horas na praça onde haviam se beijado pela primeira vez.
À tarde fora exaustiva! Arrumou-se, não queria que ele percebesse que havia chorado.
Minutos mais tarde, seguia para o centro da cidade em sua moto, a noite começava a cair, o vento frio cortando o ar. Parecia que iria chover!
Deixou a moto no estacionamento próximo à praça. Em poucos passos pôde avistar Miguel, estava sentado em um dos bancos de madeira, os braços apoiados no joelho, a cabeça baixa com ar pensativo fitava o chão.
Anna aproximou-se, ele se manteve imóvel.
_Oi... –disse sentando ao lado dele, sua voz soando insegura e apelativa.
_Oi.
_Miguel o que está acontecendo? Hoje à tarde você saiu correndo, estava estranho! Eu fiz alguma coisa que te aborreceu?
_Anna, estive com Jorge! Depois que saí da sua casa, fui atrás dele. Tivemos uma conversa difícil! Você sabe que somos amigos há muito tempo, ele esta sofrendo...
Anna o cortou: _Não estamos todos sofrendo, Miguel?
Ele a olhou, ela já o encarava, seu corpo levemente inclinado na direção dele. Segurava a bolsa no colo torcendo a alça num gesto impaciente.
_Não posso ficar com você!
_Não diga isso!
_Não posso! Anna, você não entende? Jorge é meu amigo; não agi certo!
_E eu? Então não significo nada pra você? Porque está fazendo isso? Sei que me ama! –suplicava com voz embargada e lágrimas descendo pela face sem se importar em parecer tola ou infantil. Apertava a bolsa nervosamente!
_Porque não quer mais ficar comigo? É por causa do Jorge? Não entende que nós já o magoamos, não faz sentido! Ele também é meu amigo!
_Não há honra no que eu fiz! Foi um erro!
_Eu fui um erro? Não acha que é um pouco tarde pra se dar conta disso? Porque não pensou nisso antes? E quanto a mim? -Anna sentia seu coração descompassado, as lágrimas embaçavam-lhe a visão. Todo seu corpo tremia!
Miguel desviou o olhar, se estava sofrendo ou aflito por ela, nada demonstrou. Ela se aconchegou a ele, segurando-o pelo braço. Procurava por algum sinal de que aquilo não passava de um pesadelo, mas ele permaneceu passivo e distante, imune ao seu sofrimento.
_Anna, chega! Eu não vou mudar de idéia. Sinto muito, mas só posso ser seu amigo!
_Não faça isso, por favor! Eu amo você! –disse agarrando-se ainda mais a ele, buscou-lhe os lábios. Ele deixou que ela o beijasse, mas não a correspondeu. Ele a segurou pelos braços, imobilizando-a de forma que poderia afastá-la ou aconchegá-la, encarou seus olhos castanhos avermelhados. Ela se deixou afastar, havia tanta dor em seu coração que desejou desaparecer ou morrer.
_Anna, acabou! –sussurrou soltando-a.
_Miguel...
_Eu já vou! Cuide-se! –levantou-se devagar, levando uma das mãos à nuca em sinal de cansaço.
Anna permaneceu imóvel, os braços caídos no colo, o rosto molhado e inchado.
Ele havia ido embora sem olhar para trás, deixando-a sozinha. Era o fim; estivera no céu por tão pouco tempo, deslumbrara o amor e agora encarava a queda. Ninguém a seguraria; bateria contra o chão e se machucaria; merecia morrer!
_E agora? –pensou. Buscou na bolsa um cigarro, acendeu-o com mãos trêmulas e o tragou lentamente.
Levantou, estava meio tonta, atravessou a rua apressando os passos, não queria ficar parada! Tinha deixado a moto no estacionamento.
Anna corria, o trânsito fluía tranqüilo daquele lado da cidade apesar do horário. Ia à casa de Jorge, precisava vê-lo. Será que o havia perdido também?
Parou em frente a casa dele, a moto ainda ligada. Talvez não fosse a melhor hora para esclarecer as coisas, talvez ele já a odiasse! Desligou a moto, abaixou o descanso e desceu. Uma garoa fina e fria começava a cair!
Seu rosto estava levemente vermelho e inchado, os cabelos revoltos pelo vento.
Tocou a campainha três vezes, na quarta tentativa, Jorge abriu o portão, estava abatido, encarou-a surpreso e em seguida apreensivo.
_Anna!
_Jorge, me desculpe, eu sinto muito! Não queria magoá-lo. As coisas simplesmente aconteceram... Podemos conversar?
Lembrou-se do que acontecera á tarde, sua fisionomia mudou de preocupado para decepcionado num piscar de olhos. Ainda a amava tanto, não estava pronto para vê-la com outro, ainda mais quando esse outro era seu melhor amigo.
Convidou-a para entrar, passaram pela varanda e quando entraram em casa, ela fechou a porta atrás de si. Sentaram-se no sofá, um de frente pro outro.
_Jorge... –ia começar a falar quando ele pediu com um gesto de mão que parasse.
_Não precisa me explicar nada! Eu não quero saber, até porque você não me deve nada!
_Eu sei que você e Miguel já conversaram. Você pode me ouvir?
Diante do silêncio dele, continuou: _Quero que saiba que você é uma pessoa maravilhosa, o tempo que passamos juntos foi muito especial! E hoje sua amizade é muito importante pra mim, não quero perdê-la! Por favor, diga que ainda somos amigos.
Após alguns segundos de silêncio, Jorge respirou fundo, parecia estar em algum tipo de conflito interno.
_Preciso de um tempo, Anna! Sabia que ainda amo você? Que queria tentar de novo? Acho melhor a gente não se ver por um tempo!
_Mas pensei que...
_Pensou o quê? Que já havia te esquecido? Que sermos amigos era suficiente pra mim? E porque você tinha que ficar logo com ele?
_Já disse, aconteceu! Não planejei isso, não queria magoar ninguém!
_Aconteceu! Ótima desculpa! –havia um grande sarcasmo em suas palavras e seus olhos demonstravam amargura e sofrimento.
Imediatamente, Anna arrependeu-se de ter ido procurá-lo, agiu por impulso como sempre.
_Eu não devia ter vindo! Desculpe se o incomodei, foi uma péssima idéia! –levantou-se bruscamente, indo em direção a porta, Jorge permaneceu sentado, as pernas afastadas apoiavam cada uma o peso dos braços, seus olhos ainda fitavam o lugar onde Anna havia se sentado. Não fez menção de se levantar.
Ela parou e segurando a maçaneta da porta, virou-se um pouco dizendo: _Jorge, espero que me perdoe por não ter lhe contado antes! Sei que agi mal quanto a isso! Espero que ainda possamos ser amigos. Me ligue quando quiser, tchau!
Abriu a porta e se foi, Jorge em silêncio nem ao menos olhou pra ela!
10 anos depois.
21 de Julho de 2011.
O sol aquecia suavemente a face de Anna, enquanto ela contemplava o oceano, a brisa salgada agradavelmente bagunçava-lhe os cabelos.
A extensão de areia branca se estendia a sua frente, aqui e ali havia pessoas caminhando na beirada da água, com pequenas ondas indo e vindo numa sintonia perfeita.
Respirou fundo! Nostalgicamente as lembranças surgindo devagar e vivamente. Fora ali que há dez anos Miguel havia dito que a amava.
_Como somos prisioneiros do tempo! –pensou. Ele nos conduz, cria ou apaga as lembranças, as memórias.
Não pôde esquecer! Seguiu em frente, mas não deixou de se perguntar: _E se...
De quando em quando as lembranças lhe afligiam, sufocando seu espírito, nessas horas se deixava abater. Não podia fugir delas!
_Porque Miguel? –disse suavemente, uma lágrima rolou pela face. Jamais saberia! Precisava mesmo de uma resposta?
Talvez não...
Sorriu.
Ouviu o toque de alerta de mensagem do celular, abriu a bolsa, pegou o telefone. Uma mensagem de Jorge.
“Anna, não se esqueça da festa de aniversário da Júlia. Será no sábado às quatro horas. Aguardo vocês! Jorge”
Olhou as horas, quase onze! Havia marcado com Pedro para irem ao mercado no horário do almoço, aproveitariam as promoções de quinta-feira. Depois compraria um presente lindo para a filha de Jorge e Clarice.
Atravessou à calçada, abriu o carro e entrou. Ligando-o, tratou logo de sintonizar na rádio Jovem Pam. Adorava ouvir música alta no carro, estava tocando um sucesso antigo do Paralamas:
...Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio
Saber amar
É saber deixar alguém te amar...
...Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio
Saber amar
É saber deixar alguém te amar...
Riu! Deu seta engatando a primeira, acelerou e foi em frente!
Talvez voltasse a olhar para trás, mas sabia que o tempo não volta e a vida segue.
§Fim§
(Baseado numa estória real)
Anita dos Anjos☆
Obrigado a todos por terem acompanhado o Conto: A Queda!
Terminei de ler Halo, achei uma bela estória de amor. Inocente e jovem aborda o tema: primeiro amor. Recomendo...
Comecei a ler Madame Bovary de Gustave Flaubert. É uma leitura um pouco cansativa, pois se trata de uma estória de época. Foi indicado como um ótimo livro... Estou conferindo! Beijinhos. Bye☆